Imediatamente antes de Roland Garros, a Sereia da Sibéria concedeu à Espiral do Tempo uma entrevista exclusiva em Paris – e falou da sua gestão do tempo, da parceria com a TAG Heuer e de presentes ideais para o homem.
Por Miguel Seabra em Paris
Apareceu formosa e segura, do alto do seu 1m88. A maior diva do ténis e do desporto mundial não teve problemas em se apresentar num estilo casual-chique, longe da imagem hiper-sofisticada das múltiplas produções de moda que tem protagonizado para algumas das mais destacadas revistas mundiais e da imagem de sex-symbol por que é conhecida. E, para alguém que factura 25 milhões de euros por ano, ficou genuinamente encantada com a oferta que a TAG Heuer lhe ofereceu antes da entrevista: um Formula 1 Lady Steel & Ceramic Chronograph de mostrador branco, para alternar com o de mostrador preto que ela recentemente revelou no pulso ao erguer o troféu do Open de Roma.
O triunfo na capital italiana representou o 23º título da carreira da tenista russa e também o mais importante de sempre em courts de terra batida. Um triunfo que lhe dá alento para, nesta quinzena, conseguir nos courts de terra batida de Roland Garros o único título do Grand Slam que ainda não consta do seu palmarés – depois de ter ganho muito precocemente na relva de Wimbledon (2004) e também o Open dos Estados Unidos (2006) e o Open da Austrália (2008). Uma grave lesão no ombro que requereu cirurgia travou-lhe o élan nas últimas duas épocas mas, aos 24 anos, Maria Sharapova tem ainda muitas vitórias pela frente e, aparentemente, continua insaciável; os incríveis índices de concentração que evidencia e a potência do seu jogo tornam-na numa adversária temida e colocam-na no lote das principais favoritas à conquista do título de Roland Garros. O sorteio não lhe foi favorável, já que a coloca em rota de colisão com Kim Clijsters nos quartos-de-final, mas é certo que nunca rejeitou uma boa refrega e que não tem medo de ninguém.
A personalidade da chamada Sereia da Sibéria é tão forte fora do court como lá dentro. Trata-se de uma verdadeira empresária com notáveis capacidades de gestão para conduzir todos os negócios e patrocínios associados ao seu nome, participando pessoalmente no desenvolvimento de linhas de produtos e interagindo com os seus patrocinadores. De uma longa entrevista, aqui ficam algumas das suas revelações relacionadas com a sua gestão do tempo, a paixão pelo design e a parceria com a TAG Heuer.
É provavelmente a desportista feminina com a agenda mais sobrecarregada do planeta. Qual é o seu segredo para lidar tanto com toda a parte da competição como com todas as solicitações extra-competição de modo a que não interfiram com a sua carreira e vida pessoal?
Bom, tem tudo a ver com prioridades. Saber o que é verdadeiramente importante, como e quando. Sempre fui boa a reconhecer desde muito cedo que tenho uma enorme paixão pelo que faço dentro de um court de ténis e gosto de saber que posso sempre melhorar – é isso que me motiva, que me faz ir treinar todos os dias. Mas também sei reconhecer que há muita coisa para além do ténis que me ajuda a manter a cabeça fresca, desde passar tempo com a família até aos momentos mais divertidos, passando por boas refeições. É um equilíbrio que se consegue na mente. É impossível concentrarmo-nos a cem por cento no ténis 12 horas por dia e eu gosto de experimentar coisas novas, gosto do mundo dos negócios, gosto de aprender e tenho tido muita sorte em poder trabalhar com um grupo de marcas incríveis que me têm ensinado tanto – nas nossas reuniões sinto que aprendo muito e isso para mim é mais aliciante do que ir tirar um curso. Na verdade, a gestão do tempo tem a ver com equilíbrio e prioridades.
Quão restrita é na gestão da sua agenda e quando é que o tempo parece andar mais depressa ou mais devagar para si?
Tento ser muito restrita e gosto de ser sempre pontual – gosto de saber exactamente onde vou estar, o que vou fazer a seguir. No ténis isso é muito importante; geralmente sabemos em que data se joga um torneio e quando começa mas não sabemos quando se vai concluir; gostaríamos que acabasse no final da semana, só que não temos a certeza se ganhamos sempre e não podemos planear bem as coisas – não se pode planear um serão com amigos que venham visitar-nos durante um torneio porque não podemos dispensar esse tipo de tempo porque estamos ainda em prova. No court e a competir o tempo voa; sinto que o tempo anda mais devagar durante os treinos e especialmente na época do defeso, quando treinamos horas a fio e parece que o dia não acaba! Nesses dias treino de manhã, volto para casa, durmo uma sesta, volto aos treinos, depois vou para o ginásio, depois como alguma coisa, passo tempo com a minha família… e depois acordamos no dia seguinte e tudo acontece de novo! Perdemos o fio à meada, os dias vão passando iguais e nós só queremos jogar um torneio porque, em comparação com a rotina dos treinos, os encontros a sério até parecem fáceis.
É sabido que tem uma excelente e construtiva interacção com os seus vários patrocinadores, especialmente nas áreas em que pode contribuir com ideias e sugestões de design – como sucede com a TAG Heuer, a Nike e a Cole-Haan. Qual é a natureza dessa contribuição?
Para mim, um dos factores mais importantes acerca da colaboração com uma empresa ou marca tem a ver com o meu envolvimento; desde muito jovem que sempre tive a visão de trabalhar em conjunto com outras pessoas e a razão porque tenho conseguido patrocínios de longa duração tem a ver com o facto de eles saberem que eu quero envolver-me e nunca deixaria que o meu nome fosse utilizado num produto, numa garrafa ou numa lata sem qualquer tipo de participação – não é assim que sou, nunca fui assim. No que diz respeito ao design, eu adoro o processo criativo; adoro sentar-me numa sala cheia de gente a fazer brainstorming, colocar as ideias num papel e um ano depois elas estão transformadas num produto que se encontra nas prateleiras para as pessoas poderem comprar. É um processo que me fascina, que me faz querer aprender mais, ajudar a que um produto seja melhor, sondar a opinião do consumidor, saber o que é que as pessoas gostam e o que é que as atrai. Simplesmente gosto de criar algo e ver a razão pela qual alguém gosta mais de um determinado produto em vez de outro, a razão porque as pessoas optam por uma determinada cor, e porque é que uma determinada coisa está na moda numa determinada estação.
E acredita que isso acontece porque tem um sentido da moda que é inato?
Adoro a moda porque se trata de algo muito individual, porque tem a ver com criatividade, porque envolve tantas áreas – desde os materiais às cores e aos projectos inovadores: na indústria da moda há muitos sectores que podemos experimentar. Com a TAG Heuer tive o prazer de trabalhar nalguns projectos, desde a parte dos óculos – houve uma linha de óculos desenvolvida em conjunto – até aos relógios, e tem sido uma excelente parceria devido à partilha de ideias. Sou alguém que está a viajar o tempo todo à volta do mundo, sei o que uma mulher quer, o estilo de vida que procura e também sei o que uma desportista ou uma trabalhadora deseja. Sinto que posso contribuir com essa perspectiva e que a TAG Heuer tem do seu lado toda a experiência, desde a parte técnica até à percepção das tendências.
Qual é a sua relação com o presidente da TAG Heuer, Jean-Christophe Babin? Ele confessou-me que a TAG Heuer não está tão associada ao ténis como por exemplo a Rolex e que o seu patrocínio tem mais a ver com a sua personalidade e com o que representa enquanto atleta feminina de topo do que propriamente com o facto de ser tenista – e ele é extremamente elogioso em relação a si.
O Jean-Christophe tem muita energia; ao longo dos anos temos desenvolvido uma excelente relação. Quando nos encontrámos pela primeira vez recordo-me que ele foi muito amável e mostrou-se apaixonado pelo ténis, e que me disse que achava que eu transmitia boas sensações e que era a inspiração de muitas mulheres. Tais palavras de alguém tão relevante na indústria relojoeira foram muito importantes. Não me encontro com ele muitas vezes, mas quando estamos juntos… ele por vezes pode parecer alguém muito duro e sério, por isso tento sempre dar-lhe uns murros no braço e partilhar uma boa piada com ele. Temos uma boa relação.
Tenho visto o seu pai com um Monaco, o antigo treinador Michael Joyce tem uma reedição do cronógrafo Autavia… o relógio é o melhor presente que se pode oferecer a um homem?
Absolutamente! Um bom relógio é uma peça de colecção que podemos ter durante toda a vida, não é algo que passe rapidamente de moda ao cabo de um par de meses ou de um ano. Acho que os relógios TAG Heuer se podem usar todos os dias, depois podemos colocá-lo de parte durante um mês e quando voltamos a usá-lo apercebemo-nos do quanto especial ele é. Em cada Natal recebo sempre alguns e-mails e chamadas telefónicas de vários elementos da minha equipa a pedirem-me um relógio – e eu tento corresponder, porque sei que não há nada melhor que se possa oferecer do que algo que as pessoas possam usar muito. E um bom relógio é sempre um presente que nunca nos deixa ficar mal!
Fonte: Espiral do Tempo